Estreou, há poucos dias, nas telas do cinema do Brasil, o
filme 'Noé'. A película gerou muita expectativa pela divulgação e pelos atores
que atuaram na produção. Eu não sou crítico de cinema nem especialista no
assunto, mas, como se trata de um filme com temática bíblica, sinto-me na
obrigação de manifestar minha opinião sobre o que observei quando assisti a
ele.
Do ponto de vista teológico, bíblico e doutrinário, o filme
é uma frustração do começo ao fim. Ele não se preocupa, em nenhum momento, em
ser fiel à narração bíblica ou se aproximar dela. Pelo contrário, procura
distorcer e apontar uma visão de fé totalmente contrária à visão
judaico-cristã. Uma mistura de concepções filosóficas anticristãs, tentando
levar as pessoas a uma concepção de Deus e da revelação divina totalmente
deturpada. Por isso, é importante afirmar que o Noé do filme não é o Noé da
Bíblia nem o Criador, apresentado pelo filme, corresponde ao Deus da revelação
bíblica.
O texto sagrado nos apresenta Deus como aquele que sempre
toma a iniciativa de salvar ou purificar a criação como obra de Suas mãos. A
missão de construir uma arca não é fruto de um delírio, de sonhos ou de
alucinações de Noé. Deus foi ao seu encontro e lhe confiou esta missão. Noé
personifica os homens tementes ao Senhor desde a criação do mundo. Ele não é um
alucinado, muito menos um fanático religioso sem consciência e sem maturidade,
como deseja apresentar o filme. A arca, diferente da Torre de Babel, não nasce
de nenhuma pretensão humana, mas é uma iniciativa divina para renovar a
humanidade.
Um dos ingredientes de mau gosto do filme é querer
apresentar a figura de anjos decaídos como grandes bonecos de pedra, feitos com
alta tecnologia digital, como os defensores de Noé, guardiões da arca e
combatentes contra os pretensos invasores dela. Essas criaturas, na concepção
do filme, ajudam Noé na construção da arca. Os elementos são sem fundamentos e
distorcem o sentido da revelação bíblica. Nenhum anjo decaído ajudou Noé nem
pode ajudar nenhum de nós. Ele não teve o auxílio desses fantasiosos guardiões.
A luz, a força e o auxílio que conduzem Noé é a mão de Deus, Criador de todas
as coisas.
A visão hedonista do filme apresenta um dos filhos de Noé
como um jovem impelido a possuir a mulher de qualquer um a qualquer custo. Noé,
como um obcecado religioso, opõe-se ao fato de seu filho ter uma esposa. Ainda
pior: quando sua nora engravida, dentro da arca, Noé, em nome de Deus, fica
irado com a gravidez dela e se propõe matar a criança se ela for uma menina. O
texto bíblico é muito claro ao dizer que Noé entrou na arca com sua mulher,
seus três filhos e a esposa de cada um deles. E eles, depois, iriam povoar a
terra.
O filme tem muitas outras coisas de mau gosto e
interpretações sem nenhum fundamento religioso ou bíblico. Penso que o autor da
obra poderia ter respeitado, pelo menos, o essencial da narração do texto
bíblico e criado muitas coisas belas a partir daquilo que foi inspiração
bíblica para criar o filme.
A verdade é que o longa-metragem é uma afronta e uma
distorção da beleza da revelação divina. Ele não merece ser visto nem apreciado
por quem tem a Bíblia como um Livro Sagrado, fonte da revelação divina e
inspiração primeira de fé. Existem filmes mais sérios e de roteiros mais
qualificados.
Padre Roger Araujo
Missionário da Comunidade
Canção Nova
Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=%2013487#.U0QAEvldWT9
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