quarta-feira, 22 de maio de 2013

Os Apócrifos


Distinções Prévias:Católicos e gregos distinguem entre livros canônicos (também protocanônicos), deuterocanônicos e apócrifos, referidos aos escritos

sagrados. Os canônicos são todos os aceitos como autênticos sempre, e
dentro do AT também tidos como Escritura, tanto por judeus como por
evangélicos. Os deuterocanônicos (segundo cânon) são livros do AT tidos
como escritura pelos gregos da diáspora e como tais aceitos na Igreja
mas que não formaram o cânon judaico escrito em hebraico e sim no grego
da Septuaginta. 
Os judeus do concílio de Jâmnia(90DC) os identificaram como fora do
cânon autêntico. O Talmud [= recopilação das tradições da Mishná(2a lei,
ou seja a não escrita) e Guemará (tradições orais) judaicas] os
consideram como Sefarim Hizonim (livros estranhos). No concílio de
Trento em que definitivamente a 8 de abril de 1546 foi declarada
canônica a Vulgata(= tradução latina usada na Igreja ocidental), esses
livros entraram para formar parte da Escritura, admitida como autêntica
pela Igreja Católica. Os tais foram: Tobias, Judite, Sabedoria de
Salomão, Eclesiástico, Macabeus I e II e partes de livros já admitidos
como canônicos como Baruc, Daniel e Ester. Estes textos e livros são
denominados deuterocanônicos pelos católicos e recebem o nome de
apócrifos pelos evangélicos. Do Novo Testamento temos como
deuterocanônicos a carta aos Hebreus, atribuída a Paulo, mas escrita
após a morte dele, a carta de Tiago, a segunda de Pedro, II e III de
João, a de Judas e o Apocalipse.

Houve dúvidas na antiguidade, mas hoje todos eles estão incluídos como

canônicos na Igreja católica e como tal admitidos na Igreja Oriental e
na maioria dos evangélicos. Isto  apesar de que alguns deles só foram
admitidos catolicamente no século V. Um exemplo: a Bíblia da Sociedade
Bíblica do Brasil traz todos eles. Estes livros são adotados pela
maioria das diversas igrejas cristãs.

APÓCRIFOS DO AT: Do AT existem muitos livros que os judeus denominam
apócrifos (escritos ocultos, literalmente) que outrora chamaram de
pseudo-epígrafos (escritos espúrios) entre os quais a Ascensão de
Isaias, a Assunção de Moisés, a Vida de Adão e Eva, o Testamento dos
doze Patriarcas, etc.
APÓCRIFOS DO NT: No vocabulário da Igreja romana esta palavra tem um
significado particular. O primeiro que usou a palavra foi S. Jerônimo
(+420). Outros os chamam de antilegoumena (=disputados). Parece que a
distinção entre antilegoumena e apócrifos é que estes últimos foram
escritos por hereges e contêm doutrinas contrárias às da Igreja. Vejamos
alguns exemplos.
A Estichometria de Nicéforo teve origem em Jerusalém talvez no século
IV. Seu nome alude à quantidade das linhas ( um esticho é um verso de
15-16 sílabas, escrito numa única linha)e cada escrito tem suas linhas
numeradas. Traz como duvidosos os Apocalipses de João, e de Pedro, a
Epístola de Barnabé e o Evangelho segundo os hebreus. Como apócrifos ou
espúrios os chamados períodos de Pedro, João e Tomás, o evangelho de
Tomás, a Dídaque dos apóstolos, as cartas de Clemente, de Ignácio e de
Policarpo e o Pastor de Hermas.
O chamado Decreto Gelasiano (inícios do século VI)tem uma lista de 61
livros, entre eles os evangelhos de Pedro, Tiago e Tomás conservados até
hoje, e umas cartas entre Abgar e Jesus que ultimamente tem sido muito
divulgadas.
Também do século VI temos uma lista de Timóteo, presbítero, de livros de
origem maniqueista: O Evangelho da vida, os Atos dos apóstolos de
André, e o Evangelho de Filipe.
Os Evangelhos Apócrifos (Século II )


Evangelho dos Hebreus:




A conclusão dos expertos é que existia na metade do século II e talvez
em data anterior que não ultrapassa a metade do século I. A língua foi o

aramaico, escrito em caracteres hebraicos, segundo S. Jerônimo. O autor

ou autores eram judeus-cristãos que se refugiaram em Péla, na margem
oriental do Jordão, hoje identificada com Hirbet Fahil na antiga
Decápolis e situada ao sul das duas cidades de Hipos e Gádara e em
frente de Escitópolis. Embora não seja mencionada na Escritura, é lugar
conhecido desde o século XIV aC pelas histórias profanas.

Não deve confundir-se com a Péla de Alexandre Magno da Macedônia, lugar
onde nasceu o conquistador. Pompeio (c75 aC ) formou a federação das dez
cidades ou Decápolis, em cujo território Péla chegou a ser famosa pelas
fontes de sua comarca. Para ela fugiram os cristãos para evitar as
calamidades da destruição de Jerusalém no ano 70, segundo relato de
Eusébio(+339). Foi importante núcleo de cristãos, pois temos listas de
seus bispos dos séculos V e VI dC e se encontraram interessantes
vestígios cristãos em suas ruínas: uma basílica e um mosteiro. Nela se
deu a batalha em que os árabes conquistaram a Palestina dos bizantinos
no século VIII. Hoje é uma miserável aldeia da Jordânia, uma de tantas
aldeias árabes como abundam no Oriente Próximo.


Língua: Segundo S.
Jerônimo(+419), o evangelho estava escrito em caracteres hebraicos, mas a
língua era o aramaico, ainda hoje usado em remotas aldeias do Líbano.
Ele teve um exemplar nas mãos e o traduziu ao grego e latim.

Origem: S. Jerônimo fala dos
Nazarenos de Berea(Aleppo) perto do Eufrates. Ele diz que na biblioteca
de Cesareia se conservava o texto em hebraico e que comumente é chamado
de Mateus autêntico, o qual é afirmado também por S. Epifânio(+ 403).
Não eram heréticos como os Ebionitas, a quem também se atribui a autoria
deste evangelho, mas seguiam ainda os ritos judaicos. Orígenes(+254) dá
a entender que o tal evangelho não era herético como o dos Doze
Apóstolos.

A opinião dos modernos é que constituía um Targum(= tradução livre) de

Mateus. Um exemplo: Há pouco me tomou minha mãe, o Espírito Santo, por
um de meus cabelos e me levou ao monte sublime do Tabor. Explica-se que
chame de mãe ao Espírito Santo porque em hebraico a palavra Ruah
(=Espírito)é feminina.
Uma outra passagem é sobre a parábola dos talentos. Distingue três
servos: Um que tinha procedido de modo a multiplicar o dinheiro. Um
outro que enterrou o mesmo e um terceiro que o dissipou com meretrizes e
flautistas. O primeiro foi bem recebido, o segundo unicamente
admoestado e o terceiro foi jogado no xadrez.

Uma frase que não está nos evangelhos: Nunca estareis contentes senão quando olhardes a vosso irmão com amor.

É o evangelho que claramente narra a aparição a Santiago. Após dar o
lençol ao servo do sacerdote, foi a Tiago e apareceu a ele. Trazei a
mesa e o pão, disse. E na continuação tomou um pouco de pão, abençoou o
mesmo, o partiu e o deu a Tiago, o justo, dizendo: Meu  irmão, come teu
pão, porque o Filho do Homem ressuscitou dos mortos.

No Pai nosso, no lugar de pão de cada dia traz a palavra mahar que

significa de amanhã. E fica assim o versículo: Dá-nos hoje o pão do
amanhã ou seja o pão que nos darás no teu reino.

De Barrabás diz que seu nome significa Bar-rabban ou seja filho do mestre.
O véu do templo não se rasgou mas foi a arquitrave do mesmo que se partiu.
Na ressurreição Jesus disse: não sou um demônio sem corpo no lugar de um fantasma.
Entre os crimes maiores está ter causado tristeza à alma de teu irmão.
Quando cita o AT usa o texto hebraico, conhecido e usado por S. Jerônimo
para a tradução latina de sua Vulgata, e não o texto dos setenta dos
evangelhos canônicos em geral.


Evangelhos Heterodoxos(séc II)




Introdução:  O evangelho
apócrifo antes estudado era mais ou menos ortodoxo, mas agora vamos
estudar algumas heresias e os evangelhos redigidos para seus adeptos.
Antes de analisar o conteúdo desses evangelhos vamos estudar os
primeiros gnósticos cristãos. Pois é de sua doutrina que se derivam
algumas das afirmações dos ditos evangelhos

O Gnosticismo: É a doutrina
da salvação por meio do conhecimento. Deriva de Gnosis, que é
conhecimento e gnostikós, bom de conhecimento. Tanto o judaísmo como o
cristianismo afirmam que a salvação depende do Supremo Poder, que exige
fé e obediência aos seus mandatos. O gnoticismo a estabelece num
conhecimento quase intuitivo dos mistérios do Universo e em fórmulas
mágicas, expressivas de tal saber e ciência. O gnóstico ( o sábio,
diríamos) por sua ciência especial pertence a uma classe à parte e
superior entre os outros seres: um em mil e dois em quatro mil, afirmam
eles. Podemos definir gnosticismo como nome coletivo para um grande
número de seitas panteístas e eruditas que floresceram desde tempos
anteriores a Cristo até o século V dC.

Tomando diversas noções da filosofia platônica e de doutrinas

maniqueístas defendiam a perversidade da matéria como uma decadência do
espírito e afirmavam que o Universo era uma degeneração da deidade para
esperar a regeneração da matéria num retorno ao Pai-Espírito mediante um
salvador enviado por Deus. Muitos estudiosos porém, asseguram que não
pode existir uma definição comum e abrangente do gnosticismo. Só podemos
afirmar que existem pontos comuns numa série de heresias que aparecem
nos séculos II, III e IV,  pretendendo reduzir o Cristianismo da fé a
uma religião de ciência esotérica. Estudaremos alguns dos principais
heresiarcas.

Basílides (primeira metade do século II)


Vida: É o mais antigo dos
gnósticos alexandrinos, florescendo durante os reinados de Adriano e
Antonino Pio (120-140). Teve um filho Isidoro, continuador da obra do
pai. Basílides inventou profetas que falavam em seu nome como Barcabbas e
Barcof, e ele mesmo se declarou discípulo de Glaucias, este por sua vez
de Simão Pedro. Dizia que recebia mensagens de Matias, o apóstolo.

Doutrina: Só a conhecemos
pelos testemunhos de S. Ireneu (c 170) de S. Clemente de Alexandria
(208-210) e Hipólito de Roma(225). Segundo Ireneu, Basílides era
dualista (dois princípios: o do bem e o do mal) e emanantista (os seres
saem diretamente da divindade por emanação). Para Hipólito ele era
panteísta (tudo é deus) e evolucionista (a diferença da emanação de um
princípio único, o progresso, por vezes degeneração, se dá por novas
qualidades adquiridas  entre as diferentes criaturas). Segundo Ireneu,
Basílides ensinava que a Mente (Nous) foi o primeiro ser que nasceu do
não nascido (eterno?) Pai que receberá o nome de Abrasax, porque,
segundo a gematria, a suma dos números de suas letras é 365, tanto
quanto é o número dos céus ou dos dias do ano.

Para Hipólito, Basílides dirá deste deus único que é como o Pansperma

(semente total, ou melhor todo semente). Da Mente nasceu o Logos
(razão), do Logos a Frônesis (prudência), desta a Sofia(sabedoria) e a
Dínamis (força), e destas últimas, as Virtudes, Principados e Arcanjos,
que são espíritos de alta qualidade e por meio dos quais o mais alto céu
foi feito, que parece recebeu o nome de Plêroma. Os descendentes dessas
potências superiores construíram outros céus inferiores até o número
365, céus que recebem o nome de Eons, segundo a interpretação de Ireneu.
Esta emanação é uma degeneração em poder e substância, cada vez
mostrando-se mais fraca, com menos energia. O último céu, que é o mundo
dos homens, foi feito da matéria eterna pelos anjos.

Estes últimos o ornaram com todas as coisas que vemos. Os anjos

dividiram entre si os diversos povos e etnias como se fossem seus
chefes. Porém um dos anjos, o mais poderoso, se tornou o deus dos judeus
e como tal quis subjugar outras nações. A lei foi dada por esse
anjo-chefe que livrou os judeus do faraó. Por isso enfrentou-se as
outras potências angélicas; daí a aversão dos povos contra os judeus.
Vendo isso o Pai, Abrasax, enviou seu primogênito, o Nous (logo chamado
Cristo, mas que tem o nome mágico de Caulacau) para libertar seus
crentes do poder das potências angélicas que tinham construído o mundo.

Para os homens, Cristo parecia um homem que obrava milagres. No momento

de ser crucificado ele trocou seu corpo com o de Simão de Cirene, de
modo que foi este último o morto como Jesus, enquanto o verdadeiro
Jesus, o Cristo, ficou livre sob a figura do Cirineu, até seu retorno ao
Pai. Pelo conhecimento de Cristo as almas são salvas porém os corpos
perecem.

Ética: Parece que discípulos

de Basílides admitiram a promiscuidade e a poligamia. Também uma
conduta relaxa com respeito aos idolotitos (comidas oferecidas aos
ídolos) porque deus não se interessa nessas minudências. De fato
Isidoro, o filho, aconselha a livre satisfação dos desejos carnais para
que a alma possa encontrar paz nas suas preces.

Justino,  na sua primeira apologia (150-155), sugere que os crimes de
que eram acusados os cristãos como imoralidade e magia eram propriamente
práticas gnósticas, citando como responsáveis Simão, Menandro e
Marcion, coisa que também afirma Ireneu, dizendo que usavam imagens, e
se serviam de conjuros e encantamentos. É interessante observar como os
escritores cristãos rejeitam as doutrinas gnósticas por não se conformar
com a tradição da Igreja, mas sendo interpretadas individualmente. Isto
muitos antes do concílio de Trento.


Valentin ou Valentino(circa 150)

História: Valentino nasceu

no Egito, segundo Epifânio de Salamis ou Constância, a metrópole de
Chipre(+403), Foi educado na ciência helenística em Alexandria. Como
outros hereges, veio à Roma durante o pontificado de Higínio(138-40).e
alí permaneceu até o pontificado de Aniceto(155-166). Seus erros
levaram-no à excomunhão. Por isso fugiu para Chipre, onde, como
professor, morou até sua morte em 160 ou 61.

Valentino proclamava que ele tinha aprendido suas doutrinas de Theodas

ou Theudas, discípulo de S. Paulo, mas evidentemente seu sistema é um
amálgama  das mais fantásticas idéias gregas e orientais com pensamentos
cristãos. Especialmente sua filosofia depende de Platão. Dele tomou o
conceito paralelo entre o mundo das idéias(pleroma) e o mundo dos
fenômenos (kenoma).

Doutrina: No pensamento

neoplatônico eón é cada uma das potências ou hipóstases eternas emanadas
do Uno, o ser primigênio (Bythos) que após períodos de silêncio e
contemplação originou outros seres por um processo de emanação. A
primeira série de criaturas eram trinta em número, representando os
quinze syzzygios (par) ou pares sexuais complementares.

O primeiro par era o abismo e o silêncio( Ver Gênesis) Deles derivam

mente e verdade, que por sua vez geraram palavra(logos) e vida(João no
prólogo).Pela fraqueza e pecado do 13oeon, a Sofia (sabedoria), que quis
penetrar no abismo, gerou-se uma grande desordem dentro do
pleroma(domínio divino). De um dos eons inferiores, teve origem o mundo
inferior sujeito à matéria. O ser humano, o mais excelente ser do mundo
inferior, participa de ambos componentes: o psíquico (espiritual) e o
hílico  (da matéria). A redenção consiste em liberar o superior,
espiritual, da servidão do inferior (material). Este foi o trabalho e
missão de Cristo e do Espírito Santo.

Marcion (85-160 dC):
Marcião a figura principal entre os hereges gnósticos. Dele diz-se que é
uma das figuras mais influentes na História da Igreja e um dos hereges
mais combatidos de todos os tempos. Vamos pois, conhecer sua história,
seus postulados, antes de ver sua influência e os apócrifos escritos na
base de sua heresia.


História: Nasceu em Sinope,
pequena península do Ponto, Ásia Menor, às margens do mar Negro no ano
de 85. Seu pai era bispo cristão da cidade. Parece que era Nautes ou
Nauclerus, dono portanto de um barco. S. Epifânio( escreve 40 anos após
sua morte) dirá dele que na sua juventude fez voto de castidade, mas que
ao ter relações com uma jovem seu pai o expulsou da Igreja. Ele
implorou perdão ao seu pai, mas este recusou e, levado pela vergonha e o
desprezo de seus coetâneos, secretamente deixou Sinope e viajou a Roma.
Roma estava então, sede vacante, após a morte de Higino(140). Dizem que
Marcião era bispo, o que contradiz o relato anterior e foi com esse
título que os seus discípulos o veneraram. Título, aliás,  que nenhum
dos seus adversários negou.

Imediatamente após a sua chegada em Roma doou à igreja 200 mil

sextércios (7 mil dólares), soma que lhe foi devolvida após sua ruptura
com a Igreja. Esta separação parece deu-se ao que parece no ano 144
fazendo causa comum com Cerdão, gnóstico de origem síria, que tinha
vindo a Roma em tempos do Papa Higíno(136-140). Cerdão opunha o Deus
Justo(Jahveh) do AT ao Deus Bom do NT e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo.
É propriamente o que constituiu o gnosticismo judeu-cristão. Existe uma
anedota sobre Marcião quando da visita em Roma de S. Policarpo no ano de
150, relatada por S. Ireneu: Marcião pergunta a Policarpo se o
conhecia. A resposta do santo foi: “Te conheço como o primogênito de
Satanás”. Tertuliano, que escreve em 207 diz que Marcion se arrependeu e
recebeu como condição de sua readmissão na Igreja trazer de volta
aqueles que ele tinha separado. Sua morte prematura impediu que isso
acontecesse.



Doutrina: Nos anos 70-140 o
número de seitas dentro da Igreja foi enorme. Basta recordar as dos
ebonitas, satornilos, alobianos, severianos, apotácticos, sacóforos e
hidropasianos  entre outras. Quase todas elas tinham como base
intelectual o gnosticismo dualista(dois princípios vitais) e esotérico (
nem todos os ensinamentos de Jesus foram transmitidos, mas houve uma
tradição oculta, privilegiada a uns poucos discípulos); e como ética o

desprezo da matéria (especialmente do vinho e do sexo). Muitos afirmam

que Marcião não foi gnóstico no sentido verdadeiro da palavra.

Para Marcião interessava acabar com o judaísmo como antecessor do

cristianismo, porque o AT era um escândalo para os crentes e um
obstáculo intransponível para os cultos pagãos por sua dureza e
crueldade. Por isso, para remover estes obstáculos, ele admitia uma
deidade secundária para o AT, um demiurgo que era deus em certo sentido
mas não o Supremo Deus: era justo até o extremo, tinha ótimas
qualidades, mas não era o Deus bom, que foi o Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo.

Para isso ele suprimiu todos os textos que eram contrários ao seu dogma.

De fato ele criou um NT consistente num Lucas mutilado e no que ele
chamava de Apostolikon, com dez epístolas paulinas. S. Justino
contemporâneo (+165) dirá: Com a ajuda do diabo, Marcião tem contribuído
em todos os países a blasfemar e recusar o Criador de todo o orbe como
Deus.

Marcião reconhece um outro deus e, porque ele é essencialmente maior,
tem feito coisas muito melhores que o antigo. É o Supremo Deus, o Bom, o
Justo e Íntegro. O Bom Deus é todo amor, enquanto o deus inferior é
dominado por uma furiosa cólera. O criador tem sua esfera própria e não é
oposto ao Bom Deus, como Ormuz(bom) e Arimam(mau), os dois princípios
do maniqueísmo. Mas o Bom Deus, sozinho, é quem intervêm em favor dos
homens e ama mais a misericórdia que o castigo. Todos os homens são
criados pelo demiurgo mas esse deus do AT escolheu os judeus como
próprios e assim se tornou seu Deus.


O Novo Testamento: Marcião
rejeita as passagens de Lucas sobre o batismo de Jesus nas quais o
Batista anuncia seu messiado. Também repudia a história das tentações no
deserto. Elimina os capítulos I e II por seguirem tradições hebraicas
em demasia: a perícope 4,1-3 por sua referência ao Deuteronômio e 4,
16-30 do discurso da sinagoga em que Jesus afirma que seu ministério é
completar o Velho Testamento. Das epístolas paulinas, únicas admitidas, 
elimina trechos inconvenientes para sua doutrina, como os capítulos
9-11 e todo o que segue ao 14,23 da epístola aos romanos. Não admite
outros livros do NT.

Às vezes interpreta “modo peculiari’ passagens claramente por todos
admitidas. Um exemplo óbvio: no lugar de “venha o teu reino”, ele traduz
“venha o Espírito Santo sobre nós e nos purifique”. Ao que parece, o
reino era um termo errôneo do AT.


Matrimônio e Sexo: Marcião e
seus seguidores eram ascetas rígidos. Pregavam um rigorismo estrito,
negavam o direito ao matrimônio e formulavam normas muito austeras para o
jejum. Durante os séculos II e III muitos grupos heréticos afirmavam
que o matrimônio era satânico e similar à fornicação. Seus seguidores
falavam do corpo como se fosse um ninho de pecados. É lógico pensar que
essa idéia de Marcião sobre uma abstinência sexual contribuiu muito para
a desaparição da seita.

Reação Cristã: Para os
Padres Apostólicos e para as diversas igrejas a eles unidas, a heresia
de Marcião era o desvio mais violento da verdade apostólica. Ele negava a
inspiração do AT e e a continuidade do Deus Criador com o Deus
Salvador, Pai de Jesus. Por isso foi expulso -excomungado – da Igreja de
Roma que devolveu o dinheiro em 144. Com o dinheiro devolvido, Marcião
foi capaz de iniciar um movimento missionário, fundando novas igrejas em
todo a margem do Mediterrâneo. Sua obra continuou durante 150 anos até a
metade do século IV.

Resultados: 1o) O
estabelecimento de um canon do NT como foi o de Muratori ( perto do ano
150).Entendendo o canon como o conjunto de escritos em que a inspiração
está presente, Marcião foi o primeiro a delimitar seu número a uns
poucos, bem determinados. A Igreja então aceitou como válidos os outros
três evangelhos sem que prevalecesse o critério de distinguir ente o que
era AT e o que era revelação nova do NT. Todos os apóstolos foram
admitidos com o mesmo critério.


2o)Admissão do judaísmo dentro do cristianismo como base fundamental, da
qual somos herdeiros. Porém a Igreja compreendeu que o cristianismo não
era uma revelação oposta e separada do judaísmo, ou que existisse uma
contradição total entre o evangelho e a Torá .O cristianismo era o
cumprimento das promessas do judaísmo. Foi preciso a destruição do mesmo
por Tito para os cristãos se tornarem independentes da antiga lei dos
sacrifícios. Paulo vivia e sentia a história de Israel e o templo
continuava para ele como o lugar da presença de Deus com seu povo. Só
que agora era um povo diferente, que em Cristo tinha fundamento e na
cruz alcançava sua máxima expressão.



3o) Uma maior dependência e valorização da tradição apostólica, como
verdadeira intérprete dos livros inspirados e autêntica leitura do
sentido de suas diversas partes. O conhecimento secreto , a gnosis de
Marcião, encontrou um muro intransponível na tradição apostólica: o que
ela não afirmava não estava em parte alguma e não era reconhecido como
inspirado. Também Valentin apoiava-se no conhecimento secreto. Mas a
Igreja não admitiu outro conhecimento além do público da tradição
apostólica. Qualquer revelação particular não tem o carimbo da
autenticidade que é o passo prévio para a verdade.&&



4o)A Igreja sempre se opôs à fornicação e principalmente ao adultério;
mas também afirmou claramente que o matrimônio era lícito e que o sexo
dentro do mesmo era moralmente um ato de amor,  honesto e necessário.



Evangelhos dos Ebionitas (Século II).




Introdução: Desde os
primeiros anos do cristianismo houve heresias. As principais delas
derivadas de uma interpretação filosófica errada e de práticas judaicas
ultrapassadas. À parte os judaizantes, que Paulo tanto combateu, temos
três heresias, nascidas no judaísmo:  DOCETAS (ou doketas). Admitiam que
Jesus não era o Cristo mas uma aparência de corpo, provavelmente
guiados pelo gnosticismo de seus fundadores, já que uma das doutrinas
básicas gnósticas é seu maniqueísmo (= dualidade entre bem e mal) em que
a matéria é vista como origem do mal.



Daí provém sua rejeição absoluta à matéria. A segunda é a dos EBIONITAS
judeus-cristãos que na sua rama de heterodoxos admitiam os princípios
gnósticos nos séculos II e III, tendo seu centro em Alepo, no norte da
Síria. Rejeitavam a divindade de Jesus, reduzindo-o a um demiurgo,
entidade que ordena a matéria segundo o exemplar das idéias, e assim
configura os entes (Filosofia platônica). É a terceira hipóstase detrás
do Uno e do Nous segundo Plotino. Finalmente temos os KASAITAS, também
judeus-cristãos que misturam a gnosis com elementos da astrologia dos
caldeus, antigos descendentes dos sumérios na região baixa da
Mesopotâmia.



Evangelho: É também chamado
de evangelho dos Doze. É um livro heterodoxo em que os chefes da seita,
além de querer impor os costumes legais judaicos aos cristãos
provenientes do paganismo, rejeitando a divindade de Jesus, usavam seu
evangelho próprio no qual os apóstolos narram os fatos e Mateus escreve
essas narrações. Daí o nome dos DOZE com o qual também é conhecido. O
nome de ebionitas deriva de Ebionim (em grego Ptoxoi, e em latim
pauperes que podemos traduzir por mendigos); refere-se à pobreza que
professavam. Eram vegetarianos e consequentemente modificavam algumas
passagens evangélicas, como aquela em que João, o Batista (sem citar as
lagostas porque eram animais), só comia mel selvagem, cujo gosto era
como pão empapado em azeite.(Mt 3, 4-7)



Uma outra passagem modificada ou tergiversada é o acréscimo às palavras
do batismo de Jesus: Além do “Tu és meu Filho amado’, a voz diz: “Eu
hoje te gerei” .Está clara a finalidade da tendência gnóstica de ver em
Jesus uma criatura, não eterna como o Pai.  Contra essa heresia foi
precisamente escrito o prólogo de João, o evangelista.



Uma outra passagem interessante a encontramos em Mt 5,17 quando Jesus
afirma que não veio abolir a lei e acrescentam : “Vim abolir os
sacrifícios e se não deixardes de sacrificar não se afastará de vós a
minha ira”. Pela mesma razão de não comer carne Jesus perguntará: “É que
eu tenho desejado comer CARNE convosco nesta Páscoa? A interrogação
muda completamente o sentido da frase.



Ao comentar: “muitos por dentro são lobos rapazes”(Mt 7,15) o evangelho
ebionita lamenta aqueles que vivendo entre riquezas e luxúrias não davam
nada aos pobres e os recrimina  porque teriam que dar conta de não
ter-se compadecido daqueles que deviam ter amado como a si mesmos,
embora os vissem sumidos na pobreza.



Como vemos são só algumas frases heréticas que indicam o evangelho ser
seguido em quase a sua totalidade. Porém tendo seus pontos conflituosos
em que a ideologia substituía a verdade transmitida. Em tempos mais
recentes haverá quem fixe seu pensamento numa frase única para modificar
todo um ensinamento ou toda uma tradição. Em termos morais é como se se
condenasse toda uma vida por um só ato pecaminoso.



Heterodoxia do Século II:
Como temos visto Marcião foi a cabeça de uma heresia que teve grande
aceitação no Egito. Encontramos aí a mesma com o nome de Encratitas. A
igreja dos encratitas separou-se da igreja oficial, chamada Católica, na
metade do século II e até que pode se remontar aos tempos apostólicos,
para se prolongar até o fim do século IV. O nome deriva de um termo
grego que significa comedido ou moderado. Proibiam a carne e o vinho nas
comidas e eram opostos ao matrimônio.



Para justificar suas teses serviam-se das passagens do NT que
recomendavam temperança isolando-as do contexto, interpretando-as
unilateralmente e até alterando-as. São seus apócrifos: os Atos de
Paulo, João e Pedro. Seus precursores foram os Alobianos, (entre os
sármatas, povos nômades de origem iraniana que se uniram aos escytas e
que no século II aC estavam nas margens do mar Negro). Deste grupo
parece formar parte por seu nascimento Marcião.



Já nos inícios, o cristianismo egípcio deu origem a heterodoxos,
grandemente influídos pelo gnosticismo. Somente na segunda metade do
século II a igreja egípcia integrou-se na Grande Igreja e esta
integração se realizou fundamentalmente em Alexandria onde no século III
destaca a enorme tarefa de S. Clemente e de Orígenes. No restante do
país parece que seguiram sua evolução autônoma com o surgimento de
outras correntes cristãs paralelas de caráter mais ou menos heterodoxo.



O fato de que a língua predominante fosse o copta, (forma evolucionada
do antigo egípcio) frente ao grego dominante em Alexandria, foi um fator
que facilitou esse desenvolvimento,. oposto ao cristianismo oficial que
tinha aceito e assimilado valores urbanos.  O copta assume atitudes
ascéticas de ruptura total com o mundo para se dedicar a uma vida de
anakhoresis (separação, fuga, retiro), termo com o qual se designava um
fenômeno político-administrativo  formado pela fuga dos camponeses de
sua aldeia de origem a outra, a um templo ou ao deserto para escapar à
opressão fiscal, ao serviço militar ou outras obrigações. 



Na época imperial romana está amplamente testemunhada esta fuga de
desarraigados, devedores, bandidos ou descontentes. Era uma forma de
protesto e a única saída que tinham estes desarraigados. Na anakhoresis
cristã (daí vem a palavra anacoreta) buscam um contato direto com Deus
sem nenhum intermediário eclesial, unicamente tendo como norma a
recomendação evangélica. Muitos seguem as palavras “vende quanto tens e
dá aos pobres e vem e segue-me” como um mandato supremo. O fenômeno foi
maciço e o número de monges anacoretas chegou a se contar por milhares
no século IV. Neste ambiente nasceu esta seita.



Evangelho dos Egípcios (Sec  II).




Evangelho: O chamado
evangelho dos egípcios nasce dentro desse ambiente. Por egípcios devemos
entender os habitantes da Tebaida e da Líbia e não os grecofalantes de
Alexandria como temos visto antes. É posterior ao ano 150 mas sem dúvida
o mais antigo dos evangelhos apócrifos heréticos. Suas raízes
heterodoxas têm como base os erros encratistas:  condenação do
matrimônio; gnósticos sobre a alma, atribuídas aos  naassenos, isto é,
dos cultuadores da serpente (Naas em hebraico quer dizer serpente);
trinitários dos sabelianos.(de Sabelio, heresiarca condenado por Calixto
I[217-222]) que embora não negasse a distinção das pessoas na Trindade,
a reduzia.



Esta doutrina recebeu vários nomes como modalismo(o Filho e o Espírito
eram modos de se apresentar a figura do Pai) ou monarquismo no final do
século II(nome dado por Tertuliano), aos  que afirmavam que em Deus não
existe mais do que uma pessoa. Na sua rama adocionista admite que Jesus ,
puro homem, recebeu uma parte da divindade no batismo ao ser adotado
pelo Pai. O principal defensor desta heresia foi Paulo de Samosata,
bispo de Antioquia, destituído em 268. O apócrifo evangelho de São Tomé
foi utilizado principalmente pela seita gnóstica dos Naassenos.



Evangelho de Tomé (séc II).


Descoberta: Em dezembro de
1945, pero da vila de Nag Hammadi no alto Egito, um camponês árabe que
cavava ao redor de uma grande pedra em busca de fertilizantes para seus
campos, encontrou uma velha ânfora de cerâmica. Pensava fosse um tesouro
escondido; rompeu a jarra com seu pico e encontrou dentro mais de uma
dúzia de códices de papiro envoltos em couro. Eram textos manuscritos
depositados na jarra provavelmente perto do ano 390 por monges do
próximo mosteiro de S. Pacômio  para escapar da destruição ordenada pela
igreja ortodoxa em destruição de toda heterodoxia e heresia.



Os manuscritos contêm  52 textos correspondentes aos evangelhos 
gnósticos dos quais a ortodoxia cristã percebeu ser a mais perigosa e
insidiosa das heresias, incluindo um grande número de escritos
gnósticos, que se pensava fossem destruídos durante as primeiras lutas
para definir a ortodoxia das escrituras. Entre elas estão os evangelhos
de Tomé, de Filipe e o Evangelho da Verdade. Pelas características de
linguagem parece terem origem na Síria numa comunidade judeu-cristã.
Parte de suas logia (=ditos) foram encontrados nos fragmentos de papiros
de Oxyrhynchus datados estes últimos do século III.



Lugar e Tempo: O Evangelho de Tomé é da metade do século II como original. O  códice mais antigo
(séc IV) forma parte do grupo de Nag Hammadi, que como temos explicado
foi encontrado em 1945.



Conteúdo: Não é um evangelho, pois falta a parte narrativa e sim um conjunto de logia entre
as quais podemos contar algumas parábolas tão breves, que podem ser
contadas como logia. O número das mesmas é de 144 das quais 21 têm uma
correspondência muito próxima nos sinópticos. Outras parecem-se com as
existentes nos dois evangelhos dos Hebreus e dos Egípcios. A imensa
maioria começa com disse Jesus. 



AUTOR: Não é Tomé o discípulo incrédulo de que fala o evangelho de João.
Por isso dirá S. Cirilo de Jerusalém no fim do século IV: Que ninguém
leia o evangelho de Tomé, pois não é um dos 12 apóstolos mas um dos três
discípulos pérfidos de |Manes.



Caráter: Embora a maioria dos logia possa ser entendida de modo canônico, existe um substrato
maniqueu. 
Exemplo a 77: Disse Jesus Eu sou a luz que está sobre todos
eles. Eu sou o universo: o universo surgiu de mim e tem chegado até mim.
Parti um madeiro e ai estou eu, levantai uma pedra e ai me encontrarei.
Outra a 144: Simão Pedro lhes disse: Que se afaste Mariam de nós, pois
as mulheres não são dignas da vida.  Disse Jesus: Olha eu me

encarregarei de de torná-la macho de modo que também ela se transforme

em espírito vivente, idêntico a nós os homens, pois toda mulher que se
torne homem entrará no reino do céu.



Evangelho de Filipe (séc II).


Lugar e Tempo: O evangelho teve origem no final do século II e estava no grupo de códices de Nag
Hammadi. O apóstolo Filipe é o preferido pelos gnósticos para difundir
sua doutrina esotérica (oculta e reservada).



Conteúdo: São 127 sentenças ao estilo do evangelho de Tomé, espécie de pensamentos de fundo
gnóstico-valentiniano que constituem um testemunho original da gnosis
cristã do século II, especialmente em seu aspecto soteriológico
(salvação por Cristo) O ideal do gnóstico é a conjunção da imagem(=
sêmen espiritual ou alma do pneumático como elemento feminino) com seu
anjo ( elemento masculino), como corresponde ao matrimônio entre Cristo e
o Espírito Santo ou entre o Salvador e a Sofia interior no plano
superior; ou entre Jesus e Maria Madalena na esfera terrena. Esta união
entre sementes pneumáticas e seus anjos se contrai no sacramento da
câmara nupcial como símbolo dos escolhidos no Pleroma.



Os Sacramentos: São denominados mistéria. Na sentença 68 enumeram-se cinco sacramentos:
batismo, unção, eucaristia, redenção e matrimônio. Não sabemos qual é o
sacramento da redenção que pode ser a unção dos enfermos ou o sacramento
da penitência. De todos os modos vemos como estes estavam em vigor
muito antes de serem desprezados pelos evangélicos antes de 



Exemplos: 52.- Um asno, dando voltas ao redor de uma pedra de moinho caminhou 100 milhas.e quando o
desataram encontrava-se no mesmo lugar. Há homens que caminham muito sem
adiantar um passo em direção alguma. Ao terminar o dia não tem visto
nem cidades, nem vilas, nem criação alguma, nem natureza, nem potências,
nem anjos. Esforçaram-se em vão! 53 : A Eucaristia é Jesus, pois a este
se denomina em siriaco Pharisata, que quer dizer aquele que está
estendido (=crucificado). pois Jesus veio crucificar o mundo.- 55: A
Sofia. Chamada estéril, é a mãe dos anjo, a companheira de Cristo é a
Madalena.O Senhor amava-a mais do que a todos os discípulos e a beijou
na boca...72: Jesus tinha corpo perfeito, uma carne verdadeira ao ser
ressuscitado. Nossa carne não é autêntica mas uma imagem da verdadeira
[contra os modernos que supõem que a ressurreição é espiritual]. 110:
Quem possui o conhecimento (gnosis) da verdade é livre e quem é livre
não peca, pois quem peca é escravo do pecado.



Evangelho da Vida



Não é um evangelho nem tampouco logia ou ditos de Jesus mas uma longa
disquisição de fundo gnóstico em que se fala do Pai( o sem limites e
inconcebível), do Todo, do Logos(o primeiro a brotar do Pai),  de Jesus a
quem num de seus parágrafos chama de Mãe, e do Espírito Santo que é o
seio do Pai, da Verdade como sendo a boca do Pai cuja língua é o
Espírito Santo. Os espaços são as emanações do Pai.



Cita também o Pleroma e fala dos Eons como coisas conhecidas, sem
explicar os significados das mesmas. Parece que é o filho do Pai o que
aparece em forma de carne. O número 100 significa o Pai. O Pleroma é o
lugar do descanso, mas por outra parte todas as emanações saídas do pai
são Pleromas.É difícil e fatigoso ler semelhante sermão sem unidade e
com numerosas repetições nem sempre concordantes.




Conclusão



Os apócrifos praticamente não acrescentam nada aos evangelhos e parecem
ser bem mais  comentários gnósticos de verdades evangélicas misturadas
com filosofias neoplatônicas. Não existe uma unidade de idéias, e a
confusão é a base de sua inverosimilitude ou falsidade. A ortodoxia os
combateu com o recurso à tradição apostólica.Terminamos assim um resumo
das heresias e dos evangelhos não canônicos escritos no século II.

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